quarta-feira, 16 de setembro de 2009

MEDIDAS DA ATIVIDADE FÍSICA: REVISÃO DE MÉTODOS

Métodos que Utilizam Marcadores Fisiológicos

Calorimetria
A calorimetria direta mede a energia despendida a partir da taxa de calor perdido pelo
corpo para o ambiente, e é usualmente uma medida de corpo inteiro, realizada dentro de
câmaras fechadas (Murgatroyd et al, 1993). Este método apresenta uma grande precisão e um
ambiente ótimo para estudos controlados, no entanto apresenta como desvantagens um custo
muito elevado, a dificuldade de combinação com medidas invasivas, um tempo maior para
pesquisadores e sujeitos de estudo, e um ambiente artificial que não representa as atividades
realizadas na vida diária (Murgatroyd, 1993; Schoeller e Racette, 1990).
Na calorimetria indireta a produção de calor é determinada à partir da taxa de troca
gasosa associada com o substrato energético predominante (Murgatroyd, 1993). Neste
método o sujeito é mantido em uma câmara em que a troca gasosa é controlada. Os resultados
são semelhante aos da calorimetria direta. Métodos portáteis e móveis que dispensam
acomodar o sujeito em um laboratório calorimetria indireta tem sido desenvolvidos, entre estes
a Bolsa de Douglas, o Respirômetro K-M e o Sistema Oxilog. No entanto, o emprego destes
métodos são limitados pela adaptação do sujeito ao aparelho e pelo custo elevado
(Murgatroyd, 1993; Schoeller e Racette, 1990).

Monitoração de Freqüência Cardíaca
Fundamenta-se na relação linear entre freqüência cardíaca e gasto energético. O
avanço na telemetria e miniaturização dos equipamentos tem tornado este mé todo mais fácil e
acessível. Entre os métodos de medida da freqüência cardíaca estão a radiotelemetria, a
gravação contínua do E.C.G e o microcomputador (Karvonen & Vuorima, 1988). Nos últimos
anos, um dos equipamentos que tem sido amplamente utilizado com grande aceitação é o
monitor de freqüência cardíaca, que armazena os dados e permite a transferência para um
microcomputador por meio de um software específico, da marca Polar.
Neste método o gasto energético é estimado à partir do ajuste de curvas individuais
durante uma variedade de atividades em laboratório (Melanson & Freedson, 1996). Embora os
monitores mensurem com precisão a freqüência cardíaca, a sua precisão para a medida de
gasto energético é limitada pelo fato da freqüência cardíaca alterar independente da atividade
física (Schoeller & Racette, 1990). Entre os fatores que podem alterar a associação com a
resposta do VO2 ao exercício estão o aumento da temperatura ambiente e da umidade, fadiga,
estado de hidratação, e respostas emocionais (Hensley et al., 1993). Outra limitação deve-se
ao fato de em indivíduos sedentários, freqüência cardíaca medida em 24h quase não
ultrapassar os limites de repouso, o que dificulta a distinção entre atividades leves e
moderadas (Melanson & Freedson, 1996). Apesar desta limitação, a freqüência cardíaca pode
fornecer uma indicação da intensidade, duração e freqüência da atividade.

Água Duplamente Marcada (Doubly Labeled Water)
Inventado nos ano 40, este método foi por mais de 30 anos utilizado quase
exclusivamente em animais, sendo as primeiras experiências com humanos iniciadas nos anos
80. O primeiro trabalho foi validano o método em humanos foi publicado em 1985 (Murgatroyd
et al., 1993). Desde então, tem sido empregado na estimativa do gasto energético.
O princípio do método é a ingestão de água marcada com isótopos de deutério e
oxigênio. O deutério é eliminado como água, enquanto o oxigênio é eliminado como água e
dióxido de carbono. A medida da concentração destes elementos na urina e no ar expirado
permite o cálculo da demanda de energia (Schoeller & Racette, 1990; Murgatroyd et al, 1993;
Hensley et al. 1993). Embora apresente uma grande precisão, com erro de medida em torno
de 4 – 7% (Schoeller & Racette, 1990), o custo elevado e a necessidade de pessoal e
equipamentos muito especializados restringe o seu uso em estudos mais amplos. Além destas,
outra limitação apontada é que este método não permite discriminar o tipo de atividade e a
intensidade do exercício (Melanson & Freedson, 1996). Todavia, é um método que tem sido,
empregado na validação de outras técnicas e em estudos clínicos de controle de balanço
energético (Hensley et al., 1993).


Métodos que utilizam Sensores de Movimento

O uso de sensores eletrônicos de movimento se baseia na hipótese de que o movimento
dos segmentos corporais reflete o gasto energético total (Melanson & Freedson, 1996). O
avanço das tecnologias tem permitido o desenvolvimento de instrumentos pequenos e leves
que permitem o armazenamento de dados por um determinado tempo. São colocados no pulso
ou no cinto e medem o gasto energético pelo registro das acelerações do corpo ao longo do
tempo, e então a partir de equações de estimativa permitem o cálculo do consumo de oxigênio
e do gasto energético (Schoeller & Racette, 1990). Entre estes instrumentos encontram-se
Pedômetros, Large-Scale Integrators, Acelerômetros e Monitores Tridimensionais de Atividade.

Pedômetros
O pedômetro é um contador mecânico que grava movimentos de passos em resposta a
aceleração vertical do corpo (Hensley et al., 1993). A distância deslocada pode ser estimada
calibrando-se o equipamento à amplitude da passada.
Apesar de apresentar um custo relativamente baixo, os pedômetros não são sensíveis a
atividades sedentárias e estáticas, a exercícios isométricos e nas atividades que envolvam os
braços (Melanson & Freedson, 1996). Aisworth et al., (1994) relatam que estes aparelhos
tendem a subestimar distâncias em velocidades baixas e superestimar distâncias em
caminhadas e corridas rápidas, e ainda a localização no corpo e a diferença da tensão da mola
entre os instrumentos podem resultar em registros imprecisos (Hensley et al., 1993). Mas
apesar da imprecisão, estes equipamentos podem diferenciar mudanças nos padrões de
atividades físicas (Aisworth et al., 1994; Hensley et al., 1993).

Large-Scale Integrators (LSI’s)
Estes equipamentos são sensores de movimento em que um balanço maior que 3º resulta
na ativação de uma chave de mercúrio, a cada 16 acionamentos desta chave uma contagem é
registrada (Melanson & Freedson, 1996). Do tamanho aproximado de um relógio de pulso, o
que possibilita que seja colocado em diferentes posições no corpo, e com um mecanismo de
mercúrio mais durável do que com molas, é mais confiável e versátil que o pedômetro. O LSI
permite que se discrimine diferenças de padrões de atividades físicas entre grupos que diferem
em nível de atividade física (Aisworth et al., 1994; Melanson & Freedson, 1996), entretanto
apresenta uma correlação fraca com níveis de VO2 estimados durante caminhada, corrida e
ciclismo (Aisworth et al., 1994), e ainda não monitora a intensidade do movimento (Melanson &
Freedson, 1996). Soma-se a isto o custo, o que torna difícil a sua aplicação em estudos de
maior abrangência.

Acelerômetros
Acelerômetros são aparelhos portáteis que são sensíveis à aceleração do corpo e
transformam esta informação em unidades de gasto energético (Hensley et al., 1993). O
acelerômetro mais amplamente utilizado é o Caltrac. Neste aparelho acelerações verticais
resultam no movimento de um condutor piezoelétrico interno, e a quantidade de movimentos é
proporcional ao tamanho da aceleração (Melanson & Freedson, 1996). Este mecanismo
cerâmico de condução é mais confiável e durável do que os mecanismos com molas, e como é
sensível à intensidade e à quantidade de movimento, assim como a movimentos mais suaves
do corpo humano, o Caltrac tem substituído o pedômetro e o LSI na pesquisa em atividade
física (Melanson & Freedson, 1996).
Entre as vantagens do Caltrac estão o tamanho e custo reduzido, e a não interferência na
atividade em andamento, por outro lado muitas atividades que não envolvem movimento
vertical não são bem mensuradas por este aparelho, como ciclismo, natação e levantamento
de pesos (Sallis & Owen, 1999). Por esta razão, o Caltrac é mais preciso quando a forma de
atividade predominante é a caminhada, sendo apropriado para uso em estudos de campo
nesta situação (Melanson & Freedson, 1996).

Monitores Tridimensionais de Atividade
O avanço na tecnologia resultou no desenvolvimento de acelerômetros tridimensionais
desenhados especificamente para a pesquisa em atividade física. Foram desenvolvidos
modelos com estrutura de triaxial e sensores em cada eixo e outros com um único disco
piezoelétrico que deforma como resposta a cada movimento (Melanson & Freedson, 1996).
Estes aparelhos detectam movimentos laterais, horizontais e verticais, mas uma vantagem
teórica destes aparelhos ainda não foi comprovada (Sallis & Owen, 1999).
Alguns estudos de validação têm sido desenvolvidos utilizando o modelo Tritrac R3D,
que é capaz de armazenar dados ao longo de determinados períodos de tempo, mas o
tamanho deste aparelho, que é maior que o Caltrac, pode fazer com que participantes de
estudos relutem em utilizá-lo, especialmente jovens e crianças (Sallis & Owen, 1999). Welk e
Corbin (1995) encontraram uma correlação 0,88 com o Caltrac e de 0.58 com a freqüência
cardíaca em crianças. Em outro estudo, Sherman et al., (1998), encontrou uma correlação de
0,96 com a calorimetria indireta em homens durante caminhada. Em um estudo semelhante
com jovens Almeida et al., (1999) encontraram uma correlação de 0,70, caminhando
lentamente, 0,81, caminhando rápido e 0,86 em corrida, sugerindo que o Tritrac é eficiente ao
discriminar diferentes atividades, apesar de superestimar o gasto energético. Welk, Corbin e
Kampert (1998) encontraram uma correlação de 0,70 e 0,77 entre o Tritrac e a freqüência
cardíaca em períodos na sala de aula e na aula de educação física respectivamente. Estes
novos estudos têm sugerido a possibilidade de utilização deste novo equipamento em
pesquisas na área de atividade física. No entanto, novas pesquisas ainda são necessárias para
validar o uso do aparelho em diferentes populações e situações, assim como o
desenvolvimento de tecnologia que permita a miniaturização e conseqüente redução da
reatividade do mesmo.


Métodos que Utilizam Informações dadas Pelos Sujeitos (Survey ou Levantamento)

Também conhecido como survey ou levantamento, este método envolve instrumentos
na forma de questionários, entrevistas e diários de atividade. Estas são as ferramentas mais
comumente empregadas em estudos epidemiológicos de larga escala (Melanson & Freedson,
1996; Kriska, 1997). A abordagem utilizada para medir a atividade física varia em sua
complexidade da forma auto-administrada, as questões com itens simples até a entrevista.
Para Sallis e Owen (1999) de uma maneira geral os questionários: a) requerem aos
respondentes que recordem suas atividades ao longo de um período em particular; b) podem
ser administrados por um entrevistador ou por telefone, ou ainda auto-administrados; c) os
respondentes podem ser solicitados a recordar atividades de lazer apenas ou atividades de
trabalho e de lazer; e d) podem também perguntar sobre a descrição de atividades bem
detalhadas, como freqüência, duração e intensidade a cada hora, ou apenas menos detalhada,
como a participação em classes mais amplas de atividades.
Os diários podem detalhar toda a atividade física realizada num período de tempo que é
usualmente curto, de 1 a 3 dias. Devido ao curto intervalo de tempo investigado, os diários
podem não representar o padrão de atividade física de longo termo e também apresentam a
desvantagem exigir um maior esforço do participante no seu preenchimento, assim como uma
maior reatividade, ou modificação do padrão de atividade física durante o período de
investigação (U.S. Department of Health and Human Services, 1996). Os levantamentos
recordatórios têm uma menor influência no comportamento embora possa haver alguma
dificuldade em recordar a atividade, especialmente em idosos e crianças até 10 anos (Sallis &
Owen, 1999).
Os levantamentos apresentam como principais vantagens: a) uma grande quantidade
de informação em relação ao tempo e custo envolvido; b) facilidade de administração; c) não8
reatividade; e, d) em geral não oferece dificuldade para preencher (Hensley et al. 1993). Kriska,
(1997) relata que a escolha destes métodos para estudos populacionais se deve ao fato destes
possuírem as características de: a)não-reatividade; b)praticabilidade, c)aplicabilidade; e,
d)acuracidade. Todavia estes métodos não oferecem estimativas tão precisas de gasto
energético quanto os métodos diretos, como a calorimetria.
Embora possua uma vantagem especialmente quanto ao custo e abrangência dos
estudos existem algumas desvantagens no emprego de levantamentos. Hensley et al (1993)
considera que uma desvantagem deste método é que o instrumento empregado pode não
identificar todas os comportamentos de atividade física, o que pode levar a uma dificuldade em
classificar os hábitos de atividade física.
As medidas de reprodutibilidade e validade podem assegurar a precisão e qualidade da
medida em questionários. Um questionário confiável deve apresentar os mesmos resultados
quando administrado nas mesmas circunstâncias, e para tanto são realizadas as medidas de
reprodutibilidade. Os estudos de reprodutibilidade utilizam coeficientes de teste-reteste ou
correlação intraclasse (Kriska, 1997). Num estudo recente Nahas e Barros (1999) procuraram
verificar a reprodutibilidade do Questionário Internacional de Atividade Física (OMS- 6.0) com
adultos no Brasil e encontraram um valor (R) de 0.55, 0.60, e 0.68 para atividades
ocupacionais, domésticas e de lazer respectivamente, confirmando a utilização do instrumento
na versão para língua portuguesa. A medida de validade determina o quanto o questionário
mede aquilo que para o qual foi desenvolvido (Kriska, 1997). Para a validação de
questionários, diversas medidas diretas da atividade física têm sido empregadas, e embora
muitos destes métodos sejam considerados padrões adequados, a validade pode ser
adequadamente medida, verificando a correlação do questionário com diferentes instrumentos
(Sallis & Owen, 1999). Todavia, mediante a ausência de um padrão ouro como medida de
comparação tem levado a outras alternativas como a utilização da aptidão cardiorespiratória
como padrão de validação (U.S. Department of Health and Human Services, 1996). Embora a
atividade física habitual seja um determinante para a aptidão cardiorespiratória, outros fatores
tais como herança genética, sexo e idade também tem um importante papel, apesar de alguns
estudos de correlação demonstrar que a atividade física auto-relatada não seja perfeitamente
correlacionada com a aptidão cardiorespiratória, ainda possa ser o maior fator preditivo (U.S.
Department of Health and Human Services, 1996).